Composição e propriedades
O pólen apícola é o produto apícola que apresenta uma maior diversidade ao nível da sua composição, sendo fortemente influenciada pela origem floral, condições climáticas, idade e estado nutricional da planta, estações do ano. Os componentes principais do pólen-de-abelha são os hidratos de carbono (40%), as proteínas (35%) e a água (10%) (BOGDANOV, 2015). Entre os componentes maioritários provenientes do pólen floral constam polissacáridos (calose, celulose, lenhinas, e amido), aminoácidos e lípidos (ácidos gordos, esteróis e triglicéridos). A presença de mono e dissacáridos (frutose, glucose e sacarose) provém da incorporação de néctar ou melada transportada pelas abelhas, o de mel. Os componentes minoritários presentes no pólen-de-abelha são pigmentos (flavonoides e carotenoides), vitaminas (predominantemente do complexo B, C, e E), minerais (predominantemente cálcio, magnésio, potássio e fósforo), enzimas (por exemplo, a glucose oxidase) segregadas pelas abelhas e componentes de ácidos nucleicos (KRELL, 1996). Na literatura encontram-se descritos uma lista extensa de efeitos benéficos associados ao consumo humano de pólen-de-abelha. Além do contributo para uma alimentação mais equilibrada, alguns estudos científicos têm mostrado evidências de efeitos positivos ao nível da prevenção de prostatites crónicas e da arteriosclerose, devido possivelmente à presença de flavonoides e fitoesteróis. Outros estudos demonstraram o contributo para o sucesso no tratamento de gastrites, impotência, anemia, stress pós-traumático (MUNSTEDT e BOGDANOV, 2009). Obtenção, Transformação e Armazenamento A produção de pólen apícola é favorecida em zonas com clima seco, como é o caso da Beira Interior e do Alentejo (FNAP, 2010). A obtenção desta matéria-prima obedece à seguinte sequência de operações: recolha, congelamento, secagem, limpeza, e embalamento (FNAP, 2010). Para a recolha desta matéria-prima é colocado à entrada da colmeia um dispositivo perfurado (caça-pólens) através do qual as abelhas são obrigadas a passar para chegar ao seu interior. As perfurações deste dispositivo são ligeiramente superiores ao tamanho do corpo das abelhas de modo a ocasionar a queda de uma parte das cargas polínicas para o interior de um recipiente. Este recipiente deverá ser construído de modo a impedir que as abelhas recolham o pólen coletado, permitir o escape de humidade retida e promover a circulação de ar, prevenindo-se a deterioração do produto recolhido. Para a colocação de caça-pólens o apicultor deverá ter em conta o rendimento da produção do apiário e as condições climatéricas. Dado que num apiário, a quantidade (e a qualidade) de pólen está diretamente relacionado com a produção de mel, cera e geleia real é recomendado que os caça-pólens sejam utilizados apenas durante alguns períodos de tempo, permitindo desta forma um aporte adequado de pólen para o interior da colónia, e dessa forma fazer face às necessidades da criação. A colheita de pólen pode atingir os 1,5 Kg/colmeia/ano sem que com isso se verifiquem reduções nas produções de mel. Por outro lado, a colocação destes dispositivos deverá ser feita só em condições climatéricas favoráveis pois estas podem contribuir bastante para a deterioração da matéria-prima recolhida (FNAP, 2010). O transporte do pólen para a unidade de processamento deve ser feito o mais rápido possível, em recipientes de material adequado (madeira ou plástico alimentar) com dimensão e forma que permitam o suficiente arejamento do produto, prevenindo-se assim a ocorrência de fenómenos de fermentação e agregação (FNAP, 2010). Após a colheita, e na impossibilidade de uma secagem imediata, deve ser feito o congelamento do pólen. Para a operação de congelamento, o pólen é colocado em bandejas com capacidade máxima de 2,5Kg. Esta operação decorre num período de 1 a 2 horas, durante e após o qual deverá ser feito o remeximento do produto de forma a facilitar o seu completo congelamento e a evitar a agregação das cargas polínicas. De seguida, o pólen é descongelado à temperatura ambiente durante 3 a 4 horas. Por ser um produto higroscópico e, portanto suscetível ao crescimento de fungos e leveduras, o pólen deverá ser desidratado de imediato (FNAP, 2010). Na operação de secagem deverá ser utilizado um secador com sistema de circulação forçada de ar no qual seja possível o controlo da temperatura e da humidade relativa do ar. Esta operação deverá decorrer durante um período de 12 a 48 horas a uma temperatura que não ultrapasse os 40ºC e uma humidade relativa entre 40 e 50%. O secador deverá estar equipado com bandejas sobrepostas perfuradas dentro das quais se encontra o pólen a desidratar. Para garantir uma secagem homogénea do produto, durante a operação deverá ser feita uma alteração da posição das bandejas assim como o remeximento do conteúdo em cada uma delas. O teor de humidade final deve situar-se entre os 2,5 e os 6% (FNAP, 2010). Antes, durante e após a secagem é essencial a limpeza do pólen. Esta pode ser feita manualmente utilizando pinças ou através de sistema mecânico, como um ventilador, com o objetivo de retirar eventuais partes de abelhas e restos de resíduos vegetais (FNAP, 2010). Depois de limpo e selecionado o pólen pode ser embalado em recipientes de plástico alimentar hermeticamente fechados e de capacidade variável (comércio grossista), ou em embalagens de vidro de capacidade variável cujo destino será o comércio a retalho (FNAP, 2010). O armazenamento incorreto pode conduzir a contaminações microbiológicas e alterações no valor nutricional do produto. O correto armazenamento pode ser feito à temperatura ambiente desde que sejam utilizados recipientes escuros que protejam da luz solar (em particular da radiação UV) e que garantam uma atmosfera com teor de humidade estável e inferior a 10% (preferencialmente 5%). Nestas condições o produto preserva as suas propriedades nutricionais durante vários meses (KRELL, 1996). Usos É fundamentalmente usado na formulação de produtos dietéticos, suplementos alimentares ou consumido per si adicionado a bebidas não alcoólicas. Algumas pessoas podem apresentar maior suscetibilidade alérgica a pólens de determinadas variedades florais. |
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Referências:
BOGDANOV, S. (2015). Royal Jelly, Bee Brood: Composition, Health, Medicine: A Review. Bee-Hexagon. 17p. [http://www.bee-hexagon.net/files/file/fileE/Health/RJBookReview.pdf]
KRELL, R (1996). Value-added Products from Beekeeping, FAO Agricultural Services Bulletin No.124, FAO, Rome. [ISBN: 92-5-103819-8] (disponível em: http://www.fao.org/docrep/w0076e/w0076e00.htm#con)
MUNSTEDT, K e BOGDANOV, S (2009). Bee products and their potential use in modern medicine. Journal of ApiProduct and ApiMedical Science, 1(3):47-63 [DOI: 10.3896/IBRA.4.01.3.01].
FNAP (2010). Manual de produção de Pólen e Própolis, FNAP-Federação Nacional dos Apicultores de Portugal, Lisboa, pp. 4-17.
BOGDANOV, S. (2015). Royal Jelly, Bee Brood: Composition, Health, Medicine: A Review. Bee-Hexagon. 17p. [http://www.bee-hexagon.net/files/file/fileE/Health/RJBookReview.pdf]
KRELL, R (1996). Value-added Products from Beekeeping, FAO Agricultural Services Bulletin No.124, FAO, Rome. [ISBN: 92-5-103819-8] (disponível em: http://www.fao.org/docrep/w0076e/w0076e00.htm#con)
MUNSTEDT, K e BOGDANOV, S (2009). Bee products and their potential use in modern medicine. Journal of ApiProduct and ApiMedical Science, 1(3):47-63 [DOI: 10.3896/IBRA.4.01.3.01].
FNAP (2010). Manual de produção de Pólen e Própolis, FNAP-Federação Nacional dos Apicultores de Portugal, Lisboa, pp. 4-17.
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